Hoje, dia normal como um outro dia qualquer, porém, em mim, esta inquietação que não sossega enquanto eu não parar para escrever. Sim, quero falar sobre isto que estou sentindo: esta coisa que me veio logo cedo ao abrir os olhos. Não sei se vou realmente conseguir descrever o que sinto, mas, é algo assim como uma cisterna no meio da caatinga. Sim, acho que é isto: uma cisterna que ficou um bom tempo sem receber água, e de repente, no meio do dia ou da noite, começa uma chuva fina e intensa; e esta cisterna recebe tanta água que fica a ponto de transbordar. Mas, ai vem a preocupação. O que fazer com parte desta bênção que lhe foi concedida depois de tantos anos de seca? O que fazer para que esta água não transborde sem que seja aproveitada? Ah, sim. Para que isto não aconteça é preciso esvaziá-la um pouco. E então, desvia-se um pouco daquela água para um outro recipiente, onde vai ser usada conforme as necessidades de cada um. Sim. É mais ou menos isto que sinto neste momento. Estou tão enorme e tão cheia de vida que sinto vontade de escrever. E escrever além de ser um estímulo para a mente, é também uma forma que encontrei de agradecer ao Criador por Seu grande amor por nós. Agradecer por Ele nos amar e se deixar ser amado. Sim, porque Deus é amor, bondoso e misericordioso. Ele nos ama, mas, para que suas bênçãos sejam derramadas sobre nós, é preciso que nós também O aceite como o nosso Bem Maior: que O busquemos de todo o nosso coração. Deus é amor verdadeiro. Não se pode buscar a Deus com falsidades, porque não basta só dizer que O ama, é preciso também viver este amor. E para viver este amor é preciso estar em constante vigilância, pois não são poucas as tentações mundanas; como por exemplo: a mentira o ódio e a maldade. Precisamos ficar atentos, pois, estas tentações estão presentes no dia-a-dia. Basta uma pequena brecha para elas entrarem: e aos poucos elas vão crescendo, ganhando campo e assim destruindo o que a vida tem de bom: a gentileza, lealdade, amizade, caridade, união. Mas, enfim, quero aqui falar desta coisa que sinto. Esta vontade mansa de sorrir. Sim, vontade mansa porque não é um riso gritante, mas sim, um riso íntimo. É algo de dentro e para dentro de mim. É como se eu estivesse recebendo uma dose de estímulo purificante que, sendo este de mim para mim, ou seja, não sendo este adquirido a custo do dinheiro ou coisa parecida, daí a não necessidade de elogios. Não! O que agora sinto não tem necessidade disto, pois, esta sensação, este estado abundante e calmo de ser, não precisa de alarde maior que este: escrever. Sim, escrever é algo que me incita e me faz dizer aquilo que talvez eu não conseguisse dizer olhando no olho da pessoa. Não por ficar encabulada, mas, talvez por este jeito que tenho em olhar firme nos olhos. Tenho uma admiração especial por olhos. Cada pessoa tem um jeito próprio de olhar. E os olhos são no geral reveladores. Mas, é através da escrita que eu consigo encontrar uma certa tranquilidade em dizer, ou até mesmo, entender algumas coisas que me vão chegando em diferentes momentos da vida. Por exemplo: as vezes, mesmo eu estando em companhia de outras pessoas, me surpreendo quando de repente me pego absorta em pensamentos que não tem nada a ver com o assunto do momento, mas, depois, passando se um tempo, me vem este desejo em relatar através da escrita coisas que vi e que senti. Como agora neste exato momento me veio um pensamento que não sei ao certo o que tem a ver com este texto, mas, me veio a imagem de um coco. Sim, um coco já maduro. Um coco da casca dura onde precisamos quebrá-lo para só então ele nos dar o melhor de si; que é aquela parte branca nutritiva e saborosa. E ai eu me pergunto: porque eu pensei no coco? Mas, será que eu mesma quis pensar no coco ou existiu aqui neste exato momento uma transição de pensamentos? E o que tem a ver o coco com este texto? Pois bem; o coco nasce do coqueiro, e como tudo que nasce tem um tempo certo para atingir a maturidade, o coco também tem lá sua particularidade no seu processo de amadurecimento. No início ele é apenas um filhotinho de coco pequeno e verde que com o tempo vai se desenvolvendo, crescendo e se modificando. Sabemos que para tudo há um tempo "certo" embaixo do Céu. E o coco dependendo do seu estado de maturação, pode variar um pouco o sabor e o seu valor nutritivo, mas, no geral ele é bem aceito em diversos tipos de comida. Sabemos também que para o coqueiro, assim como tantas outras árvores serem árvores, é necessário que esta árvore surja do fruto para só ai o fruto surgir da árvore: isto é o processo natural de vida entre as árvores e os frutos. Vejamos neste simples exemplo de coco e coqueiro a perfeição e existência de Deus. Pois, se o coqueiro surge do coco, mas o coco também surge do coqueiro, como então explicar este maravilhoso processo que se deu entre ambos? Pois é, este é só um pequeno exemplo da grandiosa obra e criação de Deus. Bom, como eu sempre digo: escrever é algo que me encanta e me envolve de tal maneira que nem vejo o tempo passar; mas, quero então, entender porque o pensamento coco me veio quando na verdade eu estava falando desta coisa calma e abundante que estou sentindo. Vejamos: este fruto de casca dura e fibrosa nos passa uma imagem muito diferente do que na verdade ele é. Vejo que é assim também quando conhecemos alguém pela primeira vez. Logo fazemos nossos julgamentos baseados nas aparências externas, quando na verdade, ou seja, o melhor seria conhecer antes o interior da pessoa: pois através das suas idéias, atitudes, ações e conclusões, podemos ter uma pequena amostra da sua personalidade. E ai, sim, podemos escolher se queremos ou não alongar a amizade com tal pessoa, ou seja, pode-se ter uma noção melhor de suas afinidades. Mas, ainda pensando em frutas, me veio agora a lembrança de uma planta espinhenta, mandacaru: comum no nordeste brasileiro. E olhando fixamente para a tal planta, logo notamos que a sua quantidade de espinhos é bem maior que as frutas nela existente. Mas, poreém, as frutas no meio daqueles espinhos dão um destaque todo especial: são frutas de uma cor linda e de um sabor não muito comum, mas, que no geral os pássaros gostam muito. Pois bem, imagino que assim como existem frutas de casca dura, e lindas frutas no meio dos espinhos, existem também pessoas de temperamento forte e difíceis de lhe dar, mas, que no fundo são pessoas de coração bom: pessoas que, as vezes, por terem tido alguma decepção na vida, se revestem desta casca dura de coco, querendo com isto ocultar seus verdadeiros sentimentos, e assim pois, tentando evitar uma outra decepção qualquer. Mas, a verdade é que ninguém é de um todo assim forte ou insensível. E eu que de vez enquanto preciso escrever para só então desafogar o coração, completo e finalizo este texto com o versinho a seguir:
Hoje eu estou um tanto assim...
Saudade leve que me leva
A sonhar e a sorrir
Riso íntimo
Que acaricia o meu coração
Refresca o meu pensamento
E me deixa plena
*** Neusa Leon